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Do Algarve até Lisboa, aceitei o desafio de aprofundar os meus conhecimentos em Nutrição, tendo participado nos dias 3, 4 e 5 de Novembro de 2023 na Nutrition Science Student Conferenceorganizada pela Associação de Estudantes na Universidade Nova Medical School (NMS), em parceria com o Hospital CUF Tejo.

No primeiro dia tive a oportunidade de participar num workshop, e nos dois últimos assisti a várias sessões sobre temas de oncologia, microbiota intestinal, toxicologia e segurança alimentar, cuidados intensivos, crononutrição, marketing digital, entre muitos outros.

Sempre de caneta na mão, fui registando todas as informações que considerei pertinentes.

Workshop Nutrição Aplicada à Prática Médica Clínica

No dia 3 de Novembro, participei no workshop Nutrição Aplicada à Prática Médica Clínica da Drª Cláudia Nunes. Foi muito interessante abordar o papel do nutricionista no cuidados de saúde primários, tendo o privilégio de conhecer o seu percurso profissional. Por coincidência, a mesma exerce a sua atividade no Centro de Saúde de Faro, sendo que também frequentou o curso de Dietética e Nutrição na Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve (ESS-UAlg).

Durante a sessão foram abordados vários tópicos desde o tipo de carreiras do nutricionista num centro de saúde, os vários projetos em curso no Centro de Saúde de Faro, a metodologia de trabalho usada nestes contextos e as várias patologias mais recorrentes na população portuguesa.

1º dia "The more you learn, the more you earn"

A sessão de abertura contou com a presença da recente bastonária da Ordem dos Nutricionistas (ON), Drª Liliana Sousa, a coordenadora do curso de Ciências da Nutrição da NMS, professora Conceição Calhau, e a presidente da comissão da organização da conferência, Beatriz Nogueira.

Entre as várias sessões apresentadas, as que mais me suscitaram interesse foram: Nutrição na oncologia: abordagem holística do doente com cancro, Doenças crónicas e estilo de vida: uma prioridade global para o Futuro da saúde e Abordagem nutricional ao nível dos cuidados de saúde intensivos.

Das sessões Intervenção nutricional no pré e pós-operatório da Drª Joana Gante, e Psico-oncologia pediátrica: Impacto do cancro na criança da Drª Maria de Jesus Moura, conclui que o doente oncológico apresenta um elevado risco de desnutrição, face aos tratamentos que é sujeito, ao impacto da doença na sua qualidade de vida e às alterações fisiológicas, morfológicas, psicológicas e sociais, que persistem após os tratamentos. Enquanto nutricionistas, devemos ter um papel ativo na prevenção e minimização do risco de desnutrição, minimizar possíveis consequências pós-tratamento e, sempre que possível, maximizar a qualidade de vida do doente. Para avaliar o risco nutricional de um doente oncológico são utilizadas as orientações da ESPEN, tendo por via a aplicação da PG-SGA e os critérios GLIMCaso se verifique um quadro clínico de desnutrição, a intervenção nutricional no pré-operatório deve passar por evitar o défice energético, manter um peso adequado, evitar jejuns prolongados, recomendar suplementação nutricional oral, aconselhar a realização de refeições leves até 6h antes da cirurgia, entre outras. Já a intervenção nutricional no pós-operatório varia consoante a capacidade de ingestão e digestão do doente, podendo ser necessário alterar a textura da dieta, recorrer a nutrição entérica ou, caso esta não seja suficiente/possível, a nutrição parentérica. Contudo, importa realçar que cada doente apresenta as suas características intrínsecas e responde aos tratamentos de forma muito individualizada. É por este motivo que cada caso deve ser avaliado de forma individual, garantido uma intervenção nutricional específica.

Não menos importante é a qualidade de vida do doente oncológico. Sabe-se que um diagnóstico de cancro é um fenómeno traumático, com um impacto muito negativo na saúde mental do doente e dos seus familiares. Este cenário é ainda mais traumático em crianças e jovens, dado que prejudica gravemente o desenvolvimento, a autoestima e a integração no meio social. O doente oncológico necessita de um período de adaptação, o qual implica o desenvolvimento de resiliência, isto é, a capacidade para lidar com os novos desafios inerentes à doença. Tal como mencionado pela Drª Maria de Jesus Moura “o modo como as pessoas lidam no início da terapêutica é determinante para o curso da doença”. Assim, torna-se essencial a busca de uma equipa profissional multidisciplinar que vá ao encontro das necessidades do doente oncológico e da família. Ainda, a rede de suporte social é crucial neste momento tão delicado e de grande coragem. A oradora defende que as rotinas são muito organizadoras, sobretudo em períodos de grande turbulência, sendo igualmente importante planear e implementar uma rotina adaptada à nova realidade. Como palavras de esperança, a doença não define o valor da pessoa. Cada um tem uma história de vida e esta fase é apenas um capítulo, de entre muitos outros, que precisa de ser ultrapassado.

Nas sessões da tarde, tive a oportunidade de ouvir a Drª Inês Castela sobre Doenças Crónicas e Estilo de vida: uma prioridade Global para o Futuro da Saúde. Por coincidência, a oradora também é licenciada em Dietética e Nutrição na ESS-UAlg, o que veio reforçar a presença do Algarve na conferência! Esta sessão enalteceu que o excesso de peso e a obesidade são fatores comuns a várias doenças crónicas. Tais intervenções para a mudança de hábitos alimentares devem ser feitas ao nível do indivíduo e da sociedade (através de medidas políticas e governamentais). O investimento na saúde deve ter como objetivo a prevenção da doença e não somente o tratamento da mesma.

Ainda, tive a oportunidade de assistir à apresentação Abordagem Nutricional ao Nível dos Cuidados Intensivos, da bastonária da ON Drª Liliana Sousa. A intervenção na doença crítica engloba 3 vertentes, a ressuscitação, a sobrevivência e a minimização das sequelas. O objetivo dos cuidados intensivos é garantir a sobrevivência do doente crítico. Todos os doentes críticos apresentam elevado risco de desnutrição, pelo que é fundamental a integração de um nutricionista numa equipa de cuidados intensivos. Consoante o estado do doente crítico, existem várias orientações nutricionais fornecidas pela ESPEN que devem ser implementadas. Mas, tal como mencionado anteriormente, orientações servem somente como um guia de reflexão ao profissional de saúde para que, com base no estado do doente, tome a melhor decisão.

Social night

Para terminar o dia, não faltou um evento de convívio que permitiu a proximidade entre os participantes e os oradores. Com um jantar riquíssimo, uma boa música e um ambiente descontraído, foi possível estabelecer trocas de ideias e experiências entre todos. Aqui deixo algumas fotografias para recordar essa noite.

2º dia - "A new opportunity to improve"

Das sessões apresentadas no segundo dia, a Rest and Digest: A new perspetive of chrononutrition e a Nutrição nos primeiros 1000 dias de vida foram as que mais captaram o meu interesse.

Rest and Digest: A new perspetive of chrononutrition da Drª Cristina Goudinho Silva, abordou um conceito que atualmente tem ganho destaque na sociedade: a crononutrição. Este remete para a interação entre os padrões circadianos, os padrões temporais da alimentação e a saúde metabólica. Os ritmos circadianos são padrões no organismo que se repetem de 24h em 24h, tais como os ciclos da alimentação e do sono, a taxa cardíaca e metabólica, a pressão arterial, a função imunitária, entre outros. No nosso organismo, existem os chamados “relógios” periféricos (fígado, rins e intestino), cujo funcionamento é influenciado pelo meio ambiente (padrões de luz/escuridade), por fatores genéticos e estilo de vida (hábitos alimentares, rotinas de sono). Ainda há muito para explorar sobre este tema, sendo que já começa a existir um bom suporte científico que comprove a relação entre a qualidade do sono, as alterações nas rotinas diárias e a função metabólica do organismo humano.

O conjunto de sessões que tiveram lugar na Nutrição nos primeiros 1000 dias de vida foram apresentadas pela Drª Carolina Raposo, Drª Lia Fialho Correia e Drª Ana Rita Sousa. Os temas passaram pelas várias fases do ciclo de vida, desde a infertilidade na mulher, com particular foco na endometriose, a gravidez e o comportamento alimentar infantil. Considero que as sessões foram muito completas e diversificadas, tocando em temas que até então desconhecia.

E para finalizar...

De coração cheio, termino a minha opinião sobre o evento. Caso tenham a oportunidade de participar neste tipo de iniciativas, não hesitem. É uma experiência que vos enriquece tanto em conhecimento, como também vos possibilita o contacto entre pessoas que partilham o mesmo sonho que vocês!

Universidade

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