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Lípidos
Os lípidos são biomoléculas hidrofóbicas, isto é, que apresentam baixa solubilidade em água. Estruturalmente, são compostas por cadeias hidrocarbonadas associadas a grupos funcionais, responsáveis pela natureza hidrofóbica destas moléculas.
Em termos de classificação, os lípidos podem ser divididos 4 grupos principais: triglicéridos (gorduras e óleos), fosfolípidos, esteroides (colesterol) e ceras.
O organismo humano utiliza os hidratos de carbono, na forma de glicose, como principal fonte de energia, mas a capacidade de a armazenar está limitada ao fígado e ao músculo esquelético. Por este motivo, a glicose ingerida em excesso é convertida, mediante processos metabólicos celulares, a gordura. Esta fica armazenada no tecido adiposo. A par desta conversão, os lípidos são também ingeridos diretamente através do consumo de gorduras e óleos contidos nos alimentos.
Para além de constituírem uma fonte de energia de reserva, os lípidos desempenham outras funções importantes no organismo humano. Fazem parte da composição das membranas celulares, conferem proteção e isolamento aos órgãos vitais, são precursores de hormonas, constituem a bílis e suprimem as necessidades em ácidos gordos essenciais e em vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K)
Ácidos gordos
Os ácidos gordos são a unidade estrutural dos triglicéridos e outros tipos de lípidos, com exceção dos esteroides.
Estas moléculas contêm um número par de átomos de carbono, que pode variar entre 12 a 20 átomos. Classificam-se consoante o número de ligações duplas estabelecidas entre os átomos de carbono. Desta forma, os ácidos gordos pode ser:
- Saturados, se não apresentarem ligações duplas;
- Monossaturados, se apresentarem uma ligação dupla;
- Polinsaturados, quando têm duas ou mais ligações duplas.
Ácidos gordos essenciais
Os ácidos gordos polinsaturados essenciais ao organismo, isto é, que têm de ser obtidos exclusivamente através da alimentação, são os ácidos da série ómega-6 e os da série ómega-3.
Ambos desempenham funções importantes no organismo humano. Como exemplo, as ácidos da série ómega-6, presentes em alimentos de origem vegetal e na carne de aves, são utilizados na síntese do ácido araquidónico (ARA), um precursor da síntese de prostaglandinas. Já os ácidos da série omega-3, que incluem os ácidos alfa linolénico (ALA – C18:3), o eicosapentaenoico (EPA – C20:5) e o docosaexaenoico (DHA – C22:6), podem ser ingeridos através do consumo de peixes gordos (salmão, sardinha, cavala, atum), óleos vegetais e frutos secos. Estes são cruciais para o processo de cicatrização, e o seu consumo está associado a um bom funcionamento do sistema circulatório e a um menor risco cardiovascular. Segundo a DGS, as razões inerentes a esta associação incluem a diminuição do risco de arritmias e tromboses, a redução da formação de placas de aterosclerose, a diminuição dos níveis de triglicéridos, da tensão arterial e da resposta inflamatória.
Triglicéridos: Gorduras e óleos
Os triglicéridos (gorduras e óleos) são os lípidos mais abundantes na natureza, sendo constituídos por 3 ácidos gordos e 1 glicerol (figura 1). Têm como funções fornecer energia, conferir proteção e isolamento aos órgãos vitais e transportar vitaminas lipossolúveis pela corrente sanguínea.
Um triglicérido é denominado por gordura se, à temperatura de 25ºC, estiver no estado sólido. Por outro lado, se a 25ºC estiver no estado líquido, o triglicérido é denominado por óleo. Estas diferenças relacionam-se com a estrutura química dos ácidos gordos, especificamente pelo grau de insaturação (número de ligações duplas) e no comprimento das cadeias. Em geral, as fontes de triglicéridos de origem animal são sólidas à temperatura ambiente, enquanto as de origem vegetal são líquidas. É por este motivo que se utiliza os termos gordura animal e óleo vegetal.
Esteroides: Colesterol
Os esteroides são um tipo de lípidos com uma estrutura química particular (figura 2). Este grupo inclui os sais biliares, o colesterol e algumas hormonas esteroides como a aldosterona, cortisol e hormonas sexuais.
O colesterol, conhecido pelas suas controvérsias na saúde, é o esteroide mais abundante no organismo humano. Grande parte está presente nas membranas celulares, enquanto outra é convertida a ácido cólico, utilizado na produção de sais biliares. Aliado a estas funções, o colesterol é um importante precursor para a síntese de hormonas e vitamina D.
Conforme aceite na comunidade científica, níveis elevados de colesterol no sangue, bem como pressão arterial elevada, condições clínicas de obesidade e diabetes, e o tabagismo, são fatores associados a um elevado risco de doenças cardiovasculares. Esta associação tem por base a hidrofobicidade do colesterol. Dada esta condição, são necessárias proteínas específicas, as lipoproteínas, que auxiliem o seu transporte na corrente sanguínea.
As lipoproteínas classificam-se consoante a sua densidade, que depende da proporção em lípidos e proteínas constituintes. Os lípidos têm menor densidade que as proteínas e, por isso, as lipoproteínas com maior proporção em lípidos apresentam menor densidade (LDL, low-density lipoproteins) do que as lipoproteínas com maior proporção em proteínas (HDL, high-density lipoproteins).
Segundo a literatura, a associação entre o risco de doenças cardiovasculares e os níveis sanguíneos de colesterol está intimamente relacionada com os níveis de LDLs e de HDLs. Neste seguimento, elevados níveis de HDLs reduzem o risco de doenças cardiovasculares, enquanto níveis elevados de LDLs reportam um efeito contrário. Esta situação é corroborada pelo facto das HLDs conseguirem transportar o excesso de colesterol presente no sangue para o fígado, onde será utilizado na síntese de sais biliares e, posteriormente, excretado ou reciclado. Desta forma, as HDLs conseguem reduzir os níveis sanguíneos de colesterol e, subsequentemente, reduzir o risco de aterosclerose, um fator significativo para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Uma mensagem a reter...
O consumo de lípidos, tal como qualquer outro nutriente, pode potenciar o aparecimento de efeitos positivos ou negativos na saúde.
De facto, e esta máxima é aplicável a qualquer alimento (ou nutriente), é a qualidade, quantidade e frequência da ingestão de alimentos (e dos nutrientes contidos) que condicionam o estado de saúde, e não somente a ingestão pontual e isolada de um alimento.
Bibliografia consultada
- Gibney, MJ; Lanham-New, SA; Cassidy, A; Vorster, HH. Introduction to Human Nutrition. 2nd Ed. Nutrition Society. 2009.
- https://saylordotorg.github.io/text_the-basics-of-general-organic-and-biological-chemistry/s20-lipids.html consultado a 10/02/2023.
- Duhan N, Barak S, Mudgil D. Bioactive lipids: Chemistry & health benefits. Vol. 10, Biointerface Research in Applied Chemistry. AMG Transcend Association; 2020. p. 6676–87.
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