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O que são prebióticos

Um alimento prebiótico consiste num substrato orgânico que, quando ingerido, não é digerido pelo sistema digestivo do homem, mas é capaz de conferir efeitos benéficos à saúde do próprio, sobretudo ao nível da microbiota intestinal (1).

A fibra alimentar (como as pectinas, β-glucanos, lignina) e os oligossacarídeos (como os frutanos (FOSs e inulina) e os galactanos  GOSs)), reportam uma forte ação prebiótica (1,3). Especificamente, a ingestão de FOSs tem sido associada à estimulação das bifidobacterias presentes no cólon, ao quebrarem as ligações destes compostos através da enzima β-fructofuranosidase (1).

Os FOSs e a inulina são oligossacarídeos de reserva nas espécies vegetais, encontrando-se na cebola, alho, alcachofra, trigo, raízes de chicória, entre outros alimentos. Os GOSs fazem parte da composição do leite materno, sendo sintetizados a partir da lactose, pela ação enzimática de alguns microrganismos (3). Em adição, os GOSs são também produzidos comercialmente, sobretudo na Europa e no Japão, com o intuito de serem incorporados em fórmulas infantis (1).

Exemplos de alimentos prebióticos

Outros compostos com ação prebiótica incluem os xilo-oligossacarídeos (XOS), isolmato-oligossacarídeos (IMO), rafinose, polióis (como o xilitol, manitol, lactitol) (3).

Apesar da maioria dos efeitos prebióticos provirem da ingestão de hidratos de carbono não digeríveis, substâncias como compostos fenólicos (presentes no cacau), carotenoides, ácidos gordos polinsaturados (como o ómega-3 e o ómega-6) e algumas vitaminas do complexo B e a vitamina K, têm reportado uma ação modulatória no crescimento da microbiota intestinal, estimulando a presença de microrganismos comensais benéficos e a inibição de espécies patogénicas (3).

Benefícios associados ao consumo de prebióticos

A dose de prebiótico benéfica ao ser humano depende do tipo de prebiótico, da matriz alimentar e das características do indivíduo, tais como a composição da microbiota intestinal, o estado de saúde, a idade e o sexo (3). Segundo a literatura, a ingestão diária de 5 g de prebióticos é suficiente para desencadear efeitos positivos na microbiota intestinal (1).

Averiguar os possíveis benefícios da ingestão de prebióticos na saúde Humana apresenta algumas complicações, dado à redundância da microbiota intestinal, isto é, uma gama de microrganismos desempenham funções metabólicas equivalentes no intestino humano (2). Contudo, foram postulados vários mecanismos, através de estudos realizados in vitro e in vivo, que suportam os benéficos da ingestão de prebióticos no intestino humano. Importa relembrar as limitações destes estudos, associadas às diferenças entre o organismo humano, o modelo animal e as condições laboratoriais.

A figura 1 evidencia um conjunto de mecanismos de ação dos prebióticos responsáveis pelos benefícios decorrentes da sua ingestão.

Figura 1 - Mecanismos de ação dos prebióticos nos organismos vivos, reportado em estudos in-vitro e in-vivo. Adaptado de (2).
Figura 1 - Mecanismos de ação dos prebióticos nos organismos vivos, reportado em estudos in-vitro e in-vivo. Adaptado de (2).

Segundo a literatura, os possíveis benefícios dos prebióticos manifestam-se na defesa contra microrganismos patogénicos, na absorção de minerais ao nível do intestino delgado, na função intestinal, no metabolismo energético e na regulação dos níveis de saciedade (2).

A fermentação de prebióticos resulta na produção de ácidos gordos de cadeia curta (AGCC), o que leva à diminuição do pH luminal. Além disso, estimula o desenvolvimento de microrganismos comensais benéficos que reduzem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos invasores, inibindo a sua colonização (2). Por este motivo, a redução do pH luminal e a colonização de microrganismos comensais, constitui um mecanismo de defesa contra espécies patogénicas.

Adicionalmente, o aumento da acidez no lúmen intestinal é considerado uma mais valia à solubilidade de alguns minerais, nomeadamente o cálcio. Os sais de cálcio presentes nos alimentos apresentam solubilidade dependente do pH do meio e baixa biodisponibilidade. Assim, mediante a ingestão de prebióticos, as condições de acidez proporcionadas pela fermentação microbiana, podem aumentar a solubilidade e a disponibilidade do cálcio no intestino delgado, culminando na dispersão deste mineral pela corrente sanguínea e no seu armazenamento na estrutura óssea. Estudos realizados em adolescentes demonstram que o consumo de FOSs e inulina pode potenciar significativamente a absorção e a mineralização de cálcio na estrutura óssea. Tal intervenção pode ser encarada como uma medida preventiva, a longo prazo, de patologias ósseas como a osteoporose (2).

Estudos em animais têm demonstrado que a produção de AGCC pode regular hormonas intestinais, que modulam os movimentos intestinais e promovem o aumento da frequência de defecação. Ainda, a capacidade dos hidratos de carbono não digeríveis conseguirem absorver e reter água favorece o amolecimento das fezes, e subsequente passagem pelo intestino grosso, contribuindo para a melhoria da consistência das fezes e também para a frequência de defecação (2).

Conforme reportado em vários estudos, a produção de AGCC também tem reportado vários efeitos metabólicos ao nível da homeostase da glicose, no perfil inflamatório e lipídico e nos mecanismos de regulação da saciedade. Alguns estudos postulam que os AGCC conseguem regular os recetores de ácidos gordos, a lipólise e a libertação de hormonas anorexigénias, como o PYY e o GLP-1. Ainda, os que conseguem atravessar para a corrente sanguínea, podem interagir com moléculas presentes no tecido adiposo, como a FFAR2 e FFAR3, responsáveis por estimular a produção de leptina. Estudo em ratinhos, reportam que o acetato (principal AGCC produzido pela fermentação de prebióticos), consegue atravessar a barreira hematoencefálica, atuar no hipotálamo e, subsequentemente, promover a sinalização anorexigénia (2). Dado o potencial dos prebióticos na regulação de mecanismos inerentes ao equilíbrio entre os níveis de saciedade e de fome, a incorporação destes em dietas cujo objetivo é a perda de peso, pode ser uma estratégia promissora no aumento da saciedade e subsequente redução da ingestão calórica.

Desvantagens associadas ao consumo de prebióticos

Grande parte das desvantagens associadas aos prebióticos estão relacionadas com a retenção de açúcares no intestino delgado e com a formação excessiva de gases. Como consequência, verifica-se um aumento na acumulação de água no intestino que, por seu turno, desencadeia diarreia osmótica. Ainda, a formação excessiva de gases, provoca certos distúrbios intestinais como inchaço e dor abdominal (4).

Segundo a literatura, a acumulação no intestino delgado de doses superiores a 0,3 g/kg de peso corporal de oligossacarídeos, pode suscitar a ocorrência de distúrbios intestinais. Esta é a quantidade máxima tolerável de lactose, GOSs e FOSs, em indivíduos com intolerância à lactose (4).

Em suma, a ocorrência de efeitos positivos ou adversos na saúde associada à ingestão de prebióticos, é condicionada pela expressão genética individual e pela capacidade fermentativa da microbiota intestinal.

Fontes bibliográficas

  1. Nithya V. A Review on Probiotics and Prebiotics in Foods. Inventi Rapid: Nutraceuticals. 2021;2011(2).
  2. Sanders ME, Merenstein DJ, Reid G, Gibson GR, Rastall RA. Probiotics and prebiotics in intestinal health and disease: from biology to the clinic. Vol. 16, Nature Reviews Gastroenterology and Hepatology. Nature Publishing Group; 2019. p. 605–16.
  3. Rosa MC, Carmo MRS, Balthazar CF, Guimarães JT, Esmerino EA, Freitas MQ, et al. Dairy products with prebiotics: An overview of the health benefits, technological and sensory properties. Vol. 117, International Dairy Journal. Elsevier Ltd; 2021.
  4. Yan YL, Hu Y, Gänzle MG. Prebiotics, FODMAPs and dietary fiber — conflicting concepts in development of functional food products? Vol. 20, Current Opinion in Food Science. Elsevier Ltd; 2018. p. 30–7.

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